O estudo do Ser, através da leitura de livros sagrados de todas as tradições religiosas e de toda a verdadeira literatura, filosófica ou outra, é uma forma de nos aproximarmos daquilo que é a realidade da existência.
A ninguém espanta que o estudo seja uma componente essencial do quotidiano de cada ser humano. É equívoco pensar que o estudo corresponda exclusivamente a uma etapa infantil ou juvenil das nossas vidas. Ao emancipar-se, ao tornar-se adulto, ao homem cumpre continuar a estudar, contribuindo isso para manter uma mente lúcida e receptiva até ao final da sua vida. Naturalmente, buscam-se áreas de interesse particulares consoante os indivíduos. É natural e compreensível que assim seja. Contudo, há uma questão básica, essencial, que atravessa todo o espírito humano em algum momento, e que está relacionada com a interrogação sobre o sentido da existência. Para esta questão, não há uma ciência, não há um saber, que se possa convocar ou memorizar, e que responda à nossa interrogação. Embora seja uma questão universal, certamente a mais universal de todas as questões, não há uma resposta assertiva. O que há, sim, é uma multiplicidade de perspectivas decorrentes de múltiplos factores, desde geográficos e históricos a culturais. Diferentes povos, em diferentes momentos das suas histórias, encontraram respostas diversas, mas não será estranho constatar que em todas elas há uma base matricial comum, antiquíssima, e certamente, há muito, perdida no tempo.
O estudo dinamiza não só a nossa mente como produz resultados positivos nas nossas vidas quotidianas, ao abrir-nos portas para uma atitude mais consciente e mais madura na nossa vivência do dia-a-dia. Uma mente aberta e esclarecida não põe de parte perspectivas diversas, antes as integra num todo polimórfico e produz, a partir daí uma síntese pessoal, que não nega a autenticidade, sã e inspirada, de ideias genuínas.
Para isto, o homem não tem necessariamente de se assumir como um ser religioso, a menos que se entenda como ser religioso todo o indivíduo que tem uma postura pró-activa de entendimento do sentido da existência. Na verdade, o estudo, através da leitura de um romance, de um poema, de um ensaio, de um texto filosófico, religioso, ou outro, acaba sempre por nos levar à questão fulcral que é: qual é o sentido da vida? O estudo, e a leitura, levam-nos sempre ao encontro do Ser e da natureza humana na sua dinâmica de existência real. Todo o grande pensador, todo o grande poeta, todo o grande filósofo, de algum modo fazem-nos reflectir sobre esta questão.
E, justamente, neste ponto, o mais importante é a síntese que fazemos. O discernimento que alcançamos a partir da vastidão do nosso estudo. À partida, sabemos que não encontraremos uma resposta, mas apenas aproximações ao que é a realidade da existência. Mas há aqui todo um dinamismo que é essencial. Nós somos seres em evolução e em acção mental permanente. A cada dia a nossa perspectiva é enriquecida com algo mais e, embora não atinjamos uma resposta concreta, pensamos e intuímos uma verdade, quanto mais a buscarmos.
O que se pretende com a ideia de estudo é a não cristalização num modelo rígido e pré-definido assumido como a verdade absoluta. O estudo ensina-nos justamente que não é possível aceder à verdade, mas sim a verdades, que como peças de um gigantesco puzzle cabe a cada um de nós, individualmente, pelo crivo do seu pensamento e discernimento, ir intuitivamente montando. Através da prática do estudo aproximamo-nos de nós próprios e isso é justamente a aproximação possível ao sentido da própria Vida é, na verdade, a nossa rota de espírito.
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