Conhecer-se a si mesmo é desiludir-se. Desiludir-se é progredir.
Os obstáculos que mais dificultam o julgamento de nós mesmos são a auto-complacência, a autopiedade, e a severidade. Qualquer destas atitudes é fonte de alguma espécie de ignorância. Para se conhecer a si mesmo, é necessária uma atitude de isenção, coragem e tranquilidade. Aceitarmo-nos tal como somos, é, na verdade, a única maneira de conseguirmos saber o que precisamos transformar em nós.
Esta é a senda de qualquer ser humano. Verdadeiro ponto de partida imprescindível para qualquer que seja a caminhada de progresso que se queira realizar. Não há como ser muito espiritual, ou moralmente muito digno, sem que antes se tenha feito um verdadeiro exame de consciência, uma auto-análise rigorosa, através da qual nos desiludimos em relação a nós próprios.
Justamente, muitos temem (ou não são capazes) fazer esta análise interna de uma forma verdadeiramente autêntica. É doloroso verificarmos que, no fundo, não somos seres completos no sentido de perfeitos. E, sobretudo, que as máculas que observamos nos outros estão também contidas em cada um de nós. No entanto, este exame imparcial é a substância e fonte de uma transformação vivificadora. Verdadeiramente capaz de produzir milagres nas nossas vidas. O conhece-te a ti mesmo é o mecanismo de acção real que transforma, redime e impulsiona.
Não há caminhada transformadora que não passe por este processo. O resultado, como em tudo significativo na vida, não é imediato. Todo o processo carece de uma lentidão indispensável para se consolidar como evolução. Mas, a dinâmica mais significativa é a capacidade de pormos de lado uma ideia simples que é: «eu sou melhor do que os outros». Isto implica abandonar o criticismo e ver com um olhar isento, sendo que se consiga criar distanciamento. Isto implica sermos o observador de nós próprios, não com a atitude de julgarmos como bom ou mau aquilo que somos e fazemos, mas com uma postura construtiva e transformadora, que visa ao aperfeiçoamento. Implica, também, o uso de uma fórmula simples e afirmativa, em todas as circunstâncias, que é: «eu sou capaz».
Com esta atitude de isenção e desapego em relação a nós mesmos, podemos então observar quem somos. Gostaremos de umas coisas, que podemos, ainda assim, sempre aperfeiçoar, e detectaremos outras que convém corrigir, mudar ou dissolver. Sempre amorosamente observando, e estando conscientes de que ninguém é um produto acabado e como tal perfeito.
O que posso fazer melhor? Quais são os meus pontos fortes? Quais são também os meus pontos fracos? Se mudasse este ou aquele aspecto, o que aconteceria na minha vida e na pessoa que hoje sou? Estas podem ser questões desencadeadoras de uma análise isenta e distanciada, sem medo, nem raiva, nem pena, nem desculpabilização.
Mas, acima de tudo, o que é fundamental, é assumirmos uma postura de responsabilidade. Eu sou responsável porque quem hoje sou. Não sou vítima das circunstâncias nem dos outros. Sou o resultado das minhas escolhas, procedimentos, pensamentos e atitudes. Com esta postura dinâmica estamos prontos para entrar na senda da transformação vivificadora e construtiva a nível do eu e da personalidade.
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