A verdade interior




Ao longo da nossa vida, há muitos momentos
em que inúmeras vozes, contraditórias, por vezes, nos
atropelam e, consequentemente, nos ameaçam.
Estas vozes são interiores, mas não provêem de um centramento,
não provêem de um equilíbrio próprio. São as vozes que reproduzimos
do quotidiano e da sociedade. São, em certa medida, as vozes de uma
loucura colectiva para a qual somos arrastados desde a nascença.
Por isso é tão difícil encontrarmos aquela centelha de luz interna
que, essa, sim, nos confere integridade e individuação. Não raro, até,
a tememos porque ela nos vai afastar do padrão da dita
normalidade social. Como seremos olhados? O que pensarão de nós?
Será real ou absurda a nossa verdade interna? Por isso, quantas vezes
não preferimos a esquizofrenia interior das múltiplas vozes, que, embora
ameaçando um equilíbrio saudável, que, embora causando sofrimento
e tristeza, no fundo, nos pacificam e normalizam aos olhos dos outros e,
sobretudo, também, aos nossos próprios olhos.
Na sociedade em que vivemos, é normal sentirmo-nos deprimidos, tristes,
cansados até à exaustão, é normal desejarmos a satisfação efémera
de instintos e desejos, é normal consumirmos e esgotarmo-nos, é
normal querermo-nos sentir idênticos, seguindo caminhos iguais. Este
é o padrão desestruturante que a sociedade reconhece como normal.
Fugir a ele é fugir às vozes que nos atropelam. É, verdadeiramente,
encontrar novos paradigmas, naturalmente, próprios, pessoais,
individualizadores.
Mas como o fazer? A resposta é: com verdade e com coragem.
E estas duas coisas levam-nos ao âmago profundo de um equilíbrio
interno – a uma só voz – que reconhece nas condicionantes da vida
apenas o caminho viável para a evolução da nossa consciência.
Num determinado sentido, alcançar uma maior maturidade interior
conduz-nos a um centramento pessoal que permite o descondicionamento
face às vozes obscuras que pululam em torno de nós. E, então, a diferença
entre nós e os outros é vista como natural e necessária. A individuação
transporta uma marca de criatividade; torna-se a nossa maneira e o nosso
contributo para a imensidão da Vida. Deixa de ser um estigma, torna-se
uma verdade própria. Sempre, o homem que sabe quem é, sabe, também,
qual é o seu contributo individual para a Vida, sabe, também, qual é
a sua verdade interna – escuta, em suma, uma só voz. Interna, pessoal,
intransmissível.

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