É mesmo extraordinário que,
quando chegamos a um culminar de
conhecimento de vida, a verdade que se afigura
é que basta ter confiança. Nada mais do que isso.
Ora isto vai contra o sentido habitual de tudo
o que aprendemos. Ensinam-nos sempre a estar
em alerta. Ensinam-nos a sermos avisados e, naturalmente,
desconfiados. Desconfiados até quando as circunstâncias são,
aparentemente, felizes e os tempos auspiciosos. Desconfiados
até quando os outros, próximos de nós, são simpáticos e agradáveis.
Ensinam-nos a não confiar. A estar em alerta.
A acreditar que em tudo, e em todos os
momentos, se repetem as experiências que colhemos no passado;
quase sempre más.
Mas há um saber que nos movimenta num outro sentido. Um sentido
mais sério e natural. Mais fluido e simples. Esse sentido está representado
na palavra confiança. A confiança não leva a mais nada senão do que
à pureza como estado natural. E, sobretudo, desvia-nos da mecânica
do trabalhar constante da mente, que nos alerta, nos intimida,
e nos provoca, em suma, o medo. Quando em alerta excessivo, a mente
e a pessoa tombam doentes. A depressão ou até a psicose são reflexos
desta atitude de suspeição que se apodera do ser.
Em quem confiar, então? Diria, confiar em todos e em tudo, não
com a inconsciência de um tolo; mas com a sabedoria de um
mestre. Esta confiança nasce de um centro interno que não permite
senão o bom senso, mesmo quando aparenta o contrário.
Mas, justamente, esta confiança de que falamos
tem uma particularidade: ela nasce a meio da vida do indivíduo.
Nasce, como ganho de uma maior consciência. Esta confiança
é uma confiança consciente, adulta, matura, responsável.
Confiar não é deixar de fazer escolhas; mas é, acima de tudo,
fluir a par com a Vida. Lançado na corrente, o homem não
se debate, adapta-se e integra-se. Passa a fazer parte da corrente
do rio e aceita qualquer porto. Aceita até a morte.
Numa palavra, confiar é eliminar todos os medos. O medo
é o que mais fragiliza o ser humano e o impede de ser naturalmente feliz.
A confiança, ao contrário, faz-nos ver que tudo está sempre certo.
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