Quando se sente a solidão,
como forma de incompletude, como
forma de ausência do outro, ou de outros,
como caminho doloroso da vida, é porque
algo falta ainda em nós. Na verdade, só estamos
sós, quando não sabemos estar acompanhados.
E esta verdade é válida até na solidão mais completa.
O estado de espírito que advém do estar sozinho
prende-se, em larga medida, com a atitude interior
que adoptamos. Podemos sentir a solidão como algo
doloroso ou, ao contrário, como algo pleno e
transbordante. Esta escolha tem ligação directa com
a existência ou ausência de Vida em nós próprios. E esta
Vida – se rica, borbulhante de energia, electrizante –
projecta
um sentimento de integridade.
Hoje em dia, vivemos mergulhados num universo que, sem sentido
algum, nos submete à comunicação e contacto quase
permanentes; o tempo para nós mesmos é desprezado em favor
dos contactos telefónicos, das mensagens, das redes sociais –
e esta urgência, quase total, de estar em contacto,
afasta-nos
de nós mesmos e leva-nos a encarar a solidão como algo negro
e
tenebroso. Mas é justamente perante a vivência da solidão, ou
de
momentos de solidão, que o homem se organiza e cresce; se o
diálogo e a ponte consigo próprio for verdadeira e não
superficial e
fútil, como, em geral, é a grande maioria dos contactos
sociais
que estabelecemos.
Na verdade, não há encontro com o outro, se antes não houver
um encontro profundíssimo com nós próprios. E todo o homem
consciente sente como verdadeira esta observação. Não é
possível estar em partilha, se eu, interiormente, estiver
dividido;
se não tiver alcançado exprimir-me como o ser íntegro que
sou.
Por isso, todo o ser humano verdadeiramente emancipado não
teme a solidão. Como tudo o que faz parte da Vida, aceita-a
e desfruta-a como dádiva para o seu crescimento e expressão
criativa. E percebe que sabiamente: há um tempo para semear
e um tempo para colher; um tempo para partilhar e um tempo
para construir.
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