A lógica e a imaginação



A dualidade que existe no universo, existe,
de igual modo, dentro de nós próprios. Está presente, na nossa
mente, uma polaridade evidente entre o raciocínio exacto e a
lógica e a vertente da intuição e da imaginação subtis.
Não raro, uma tende a predominar sobre a outra.
E, num mundo físico e material por excelência, é natural
que se privilegie o factual e o demonstrável. É até bom
que assim seja, sem ordem e normatividade, as sociedades
não sobreviveriam e o homem, como um todo, entraria
em desagregação. Porém, uma existência, individual, social,
política, ou outra, não se desenvolve se as qualidades
emergentes de uma mente viva e imaginativa forem ignoradas.
Os desequilíbrios tão acentuados que, hoje em dia, observamos
decorrem desta desarmonia interna.
Sempre que estamos perante dois pólos, tem de haver dinâmica, movimento
e interacção entre eles; caso contrário, a estagnação de um
provoca o adoecimento do todo. Matar a imaginação ou matar
a lógica representa um perigo absoluto para o homem.
Eliminar uma destas dimensões da mente representa o
desagregamento do ser. Hoje, não raro, sem espaço para o domínio da
mente imaginativa, o homem adulto fica aprisionado e
emparedado numa dimensão da existência que necessariamente
o desumaniza e lhe provoca dor e sofrimento. Reduzido ao
terreno das equações e da ciência e técnica, não resta ao
homem senão acreditar no prolongamento da vida e na
eliminação da morte, negando o que, tal como no universo,
existe dentro de si próprio.
Quando em equilíbrio, o ser humano adulto tem consciência da
da sua mente dual e não despreza aquilo que em si
o liga ao universo mágico da criança. E, justamente,
dessa magia, desse fantástico, está o mundo carente, pois
necessita de idealizar, transformar-se, recriar-se. Uma
realidade sem utopia é sinónima de um universo
que se esqueceu de que no sonho
está contida a forma de todas as coisas. Sendo que
o contrário também é verdadeiro.




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