Transformação interior






O processo de transformação interior de um ser humano pode ter uma analogia perfeita com o processo e as etapas de remodelação de uma casa. Num caso como noutro, em primeiro lugar, há que estabelecer qual o nível de intervenção que é requerido. Pode suceder que apenas uma pequena remodelação seja necessária ou pode ser necessária toda uma intervenção de natureza mais alargada e profunda. Mas quer num caso quer no outro, coisas muito semelhantes têm de ser equacionadas. Digamos que apenas difere o tempo que é preciso para a transformação e os recursos que vão ser empregues.

Um momento prévio, absolutamente indispensável, é o do reconhecimento da necessidade da intervenção ou da transformação. Digamos que, de alguma forma, o indivíduo tem de ter consciência que algo precisa de ser modificado e transformado – e, sendo possível, deve existir na sua mente um certo modelo ideal a ser alcançado. Digamos que há um diagnóstico, uma análise, que determina que algo está ultrapassado, defeituoso, gasto, e que precisa de ser melhorado e modificado. No caso do indivíduo, algo na sua vida se apresentará como desajustado ou não funcional para aquilo que são as suas necessidades de existência plena. Ter consciência deste facto é o ponto de partida indispensável para operar algum tipo de mudança e de transformação.

No caso da remodelação de uma casa, e dando início ao processo, a primeira etapa é a da desarrumação de todo o recheio aí existente. É necessário despejar móveis e desarrumar a mobília, tal como será necessário, a nível do ser humano, movimentar ideias e pensamentos e atitudes que conformam certas rotinas ou hábitos concretos. Ou seja, quer num caso quer no outro, é preciso libertar espaço. É necessário até provocar um certo caos, ou seja, desorganização, para que algo novo possa despontar e surgir.

Depois, ou previamente, é preciso escolher materiais, os melhores e os mais adequados, para uma transformação. A qualidade daquilo que se escolhe, o cuidado na seleção de novas ideias, os contactos, informações, leituras, é absolutamente equivalente à escolha de elementos de qualidade para transformar uma habitação. Se são escolhidos materiais de segunda ou de terceira categoria, o trabalho que se está a ter será quase desperdiçado; pois, a breve trecho, a degradação que se queria ultrapassada surgirá, provavelmente, de uma forma ainda mais aguda.

Segue-se o tempo da obra e da transformação. Poderá ser longo e muito demorado. Poderá até suceder que seja preciso melhorar ou corrigir algo que já foi feito. É também natural que sucedam compassos de espera e tempos aparentemente mortos para que algum material seque ou se acomode. Ou seja, o processo pode ser muito longo e requer mestria e paciência.

Finalmente, quando a obra está completa e realizada, terminada, é necessário limpar e arrumar cada coisa no seu lugar. Também é assim com uma transformação de um indivíduo, o processo só finaliza, quando o homem é capaz de recompor a sua vida, fazendo os reajustamentos que decorrem da mudança que se operou nele.



O Tempo e o Espaço





Invariavelmente, quase toda a gama de reflexões,
na área do pensamento pós-moderno
em torno da vivência e da espiritualidade,
se debruça sobre a importância do Tempo.
Defende-se, justamente, que o passado e o futuro
são inexistentes e que o Homem não dispõe senão de
um eterno agora – ou seja, um Presente, que é um instante contínuo.
De um ponto de vista estritamente filosófico, é correta
esta evidência; contudo, há passado tal como existe futuro! Porque,
na abrangência de uma mente humana, estas categorias
inscrevem-se como relevantes, necessárias e específicas. Do passado, a história,
recolhemos as lições e os casos memoráveis que são, e devem ser, o nosso
esteio de vida no que diz respeito à nossa ação do presente. Sem esse passado,
amnésico, portanto, o indivíduo perderia todos os vínculos sociais e humanos
e seria como um descamisado sem raízes que são a seiva dos ramos. Rememorar
o passado, meditar sobre os acontecimentos, procurar clarificá-los e
compreendê-los, é trazer luz sobre um património imensamente
valioso e traduz-se num cúmulo de Sabedoria. Quanto mais velho mais
sábio… o que devia ser sempre uma Verdade. Quanto ao tempo futuro…
O futuro é a porta da esperança que se abre ante o indivíduo. Como alguém
já disse, com esperança podemos suportar quase tudo. Assim, é o tempo futuro
a visão que temos de um amanhã realizável; adormecemos
mais sossegados, perante a segurança do tempo
futuro que será o novo dia
e a nova manhã, quando acordarmos. O futuro é o tempo
que permite e potencia a dimensão do Sonho,
da inovação, da mudança;
é o futuro o construir no presente o que pode vir a ser –
o futuro é o potencial do génio humano: é dizer «amanhã plantarei
a semente» e poder ver no presente a árvore completa.
Assim que uma vida humana se constrói
necessariamente na dimensão material (e imaterial) de um Espaço
e na múltipla natureza do Tempo.




Um homem na cidade

Todo o espaço natural é mais vibrante e são e o homem carece do contacto com amplos espaços abertos, onde possa respirar e fruir...